Na semana de 18 a 22 de agosto de 2025, o dólar frente ao real oscilou entre R$ 5,4155 e R$ 5,4828, encerrando praticamente estável em relação ao início do período. Na segunda-feira (18/08), a moeda norte-americana fechou a R$ 5,4155, mínima da semana, refletindo ainda o impacto positivo do IPCA de julho, que surpreendeu abaixo das expectativas e reforçou a visão de desinflação.
Na terça-feira (19/08), a taxa subiu para R$ 5,4716, em movimento de correção técnica e cautela pré-Jackson Hole, num dia em que também ganhou relevância o contencioso comercial Brasil-EUA com o aceite de consultas na OMC. Na quarta-feira (20/08), o câmbio praticamente repetiu o patamar, fechando a R$ 5,4726, em compasso de espera pelo discurso de Powell.
Na quinta-feira (21/08), a cotação atingiu a máxima semanal de R$ 5,4828, sustentada pelo ambiente global mais cauteloso. Já na sexta-feira (22/08), o real recuperou terreno e levou o dólar a R$ 5,4392, após Powell sinalizar viés mais dovish em Jackson Hole, reforçando as expectativas de corte de juros nos EUA. Assim, o padrão da semana foi em “V Invertido”: valorização do real no início, pressão compradora no meio da semana e novo alívio no fechamento.
No front doméstico, o período foi marcado por tensões político-comerciais entre Brasil e EUA, que impactaram diretamente o câmbio. O governo americano sancionou o ministro do STF Alexandre de Moraes e, em resposta, o ministro Flávio Dino determinou que decisões estrangeiras não têm efeito automático no Brasil, acirrando as relações bilaterais. A perspectiva de escalada na crise diplomática pressionou o mercado local – houve forte queda nas ações de grandes bancos brasileiros e o dólar disparou para R$ 5,50 no pico de terça-feira (19/08), em meio ao clima de aversão a risco interno.
Ao mesmo tempo, indicadores econômicos do Brasil trouxeram sinais mistos. As expectativas de inflação cederam ligeiramente (o boletim Focus reduziu a projeção de IPCA 2025 de 4,95% para 4,86%), indicando que a desinflação continua em curso – embora a expectativa ainda esteja acima da meta oficial (meta de inflação oficial para 2025, determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,00% ao ano), limitando espaço para cortes muito agressivos na Selic.
A conexão com o mercado americano se deu principalmente via expectativa de política monetária e clima de investimentos globais. Até quinta-feira, fatores externos não provocaram grandes oscilações no câmbio; o movimento doméstico foi o principal driver da alta. Já na sexta-feira, a influência externa tornou-se positiva para o real: a sinalização de possível corte de juros nos EUA melhorou o apetite por risco global, favorecendo moedas emergentes. Com juros americanos potencialmente menores, aplicações nos EUA ficam menos atraentes, e investidores buscam alternativas em mercados como o Brasil, o que tipicamente leva à queda do dólar frente ao real.
No cenário internacional, dois fatores principais moldaram a semana: as disputas comerciais globais e as perspectivas de juros nos EUA. Do lado comercial, as tarifas impostas pelos EUA continuaram a gerar impacto mundial. Washington ameaçou ampla elevação de tarifas (algumas de até 50%) contra vários países, o que levou a negociações intensas. Houve progresso importante com a União Europeia: após semanas de conversa, EUA e UE anunciaram um acordo comercial que estabeleceu teto de 15% para a maioria das tarifas sobre exportações europeias aos EUA. Esse acordo evitou uma escalada maior da guerra comercial transatlântica, embora tarifas punitivas de 50% permaneçam em vigor para setores como aço, alumínio e cobre.
Mesmo com alguns acordos em andamento, o ambiente de “tarifaço” elevou riscos inflacionários em nível global. Autoridades do Fed alertaram que as tarifas de importação mais altas estão aumentando o risco de inflação nos EUA até o final do ano. O próprio Powell, em seu discurso, ressaltou que “os efeitos das tarifas nos preços aos consumidores estão claramente visíveis”, projetando acúmulo desses impactos nos próximos meses.
No aguardado simpósio de Jackson Hole (sexta-feira, 22/08), Jerome Powell trouxe uma sinalização para a política monetária americana, mesmo com cautela. Pela primeira vez no ano, o presidente do Fed admitiu a possibilidade concreta de um corte de juros já na reunião de setembro. Powell abriu a porta para reduzir a taxa básica – atualmente em 4,25%–4,50% a.a. – reconhecendo que há espaço para o primeiro corte de 2025 caso as condições econômicas permitam. Embora tenha mantido cautela, frisando que a decisão dependerá dos próximos dados de inflação e emprego (ambas para essa sexta-feira) e que os riscos de inflação elevada permanecem no radar, o tom geral foi mais brando (dovish).
Os mercados reagiram prontamente: as apostas de um corte de 0,25 p.p. em setembro saltaram para ~84% (antes eram ~65%). O dólar enfraqueceu globalmente após o discurso – o índice DXY caiu cerca de 0,98% no dia – e bolsas internacionais subiram. Investidores interpretaram que o ciclo de afrouxamento monetário nos EUA pode reiniciar, o que reduz a atratividade relativa dos ativos americanos e beneficia mercados emergentes.
Na semana de 18 a 24 de agosto de 2025, o comportamento do câmbio refletiu um contraste marcante entre pressões internas e externas. No Brasil, o agravamento da crise diplomática com os Estados Unidos — envolvendo sanções a membros do STF e a imposição de uma tarifa de 50% sobre exportações — elevou a percepção de risco político e comercial, reduzindo o apetite de investidores estrangeiros por ativos locais. Esse ambiente de incerteza pressionou a bolsa, aumentou a busca por proteção cambial e levou o dólar a tocar R$ 5,50 em seu ponto mais alto. Assim, mesmo com fundamentos relativamente positivos, como a redução das expectativas de inflação no Relatório Focus, o real perdeu espaço frente ao aumento da aversão a risco doméstica.
No cenário externo, entretanto, predominou um tom mais favorável. O discurso de Jerome Powell em Jackson Hole sinalizou a possibilidade concreta de cortes de juros já em setembro, enfraquecendo o dólar globalmente e ampliando a valorização de moedas emergentes. O índice DXY recuou, e os fluxos de capitais tenderam a se direcionar para mercados com juros elevados, como o Brasil. Ainda assim, o real não acompanhou totalmente esse movimento, mostrando um descolamento em relação a outras moedas emergentes, resultado direto das turbulências políticas internas.
Esse contraste gera implicações relevantes. No câmbio, a depender da evolução das negociações comerciais com os EUA e do ritmo de cortes de juros no Brasil e nos EUA, o dólar pode tanto recuar para níveis abaixo de R$ 5,40 quanto voltar a testar R$ 5,60. Nos fluxos de capital, o Brasil corre o risco de perder parte dos recursos de portfólio que, em condições normais, seriam atraídos pelo diferencial de juros, deslocando-os para outros emergentes menos expostos a ruídos políticos. Já na economia real, exportadores podem perder competitividade com tarifas elevadas, enquanto importadores sofrem com custos maiores, pressionando margens e preços internos.
Em resumo, enquanto o ambiente externo oferece condições de alívio, o ruído doméstico limita os ganhos potenciais e reforça a necessidade de monitorar tanto a política monetária internacional quanto os desdobramentos diplomáticos locais para avaliar os próximos movimentos do dólar frente ao real.
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