Governo americano: Volatilidade do mercado de energia e impactos econômicos

Com Trump atualmente na presidência dos EUA, os mercados globais de energia já sentem o impacto de suas políticas, antecipando possíveis mudanças que podem

Lavinia Pereira
Mar 31, 2025 12:00:00 AM

Com Trump atualmente na presidência dos EUA, os mercados globais de energia já sentem o impacto de suas políticas, antecipando possíveis mudanças que podem aumentar a volatilidade.

O primeiro mandato de Trump enfatizou a desregulamentação, a independência energética e negociações comerciais agressivas. Embora seu objetivo neste segundo mandato seja reduzir os preços da energia, as realidades geopolíticas e econômicas podem levar a resultados contraditórios. Este artigo analisa três fatores-chave que podem moldar os preços da energia e a economia em 2025 e além. 

 

Fatores Geopolíticos e Segurança Energética 

Espera-se que a estratégia “America First” de Trump para a energia impacte comércio global e as relações diplomáticas, especialmente considerando grandes nações produtoras e consumidoras de petróleo: 

 

  • Rússia e Ucrânia: Desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia enfrentou sanções que impactaram significativamente seu setor energético. Em 2023, as exportações de petróleo russo caíram 6,5%, com mais de 90% das vendas redirecionadas para a China e a Índia. O G7 e a UE impuseram um teto de preço de US$ 60 por barril para limitar as receitas russas. Se Trump suspender essas sanções, o petróleo russo pode voltar aos mercados ocidentais, aumentando ligeiramente a oferta global. No entanto, uma Rússia sem sanções poderia vender seu petróleo a preço integral, elevando potencialmente os preços globais do petróleo, mesmo com um aumento da oferta. 

 

  • Oriente Médio: Trump historicamente manteve laços estreitos com a Arábia Saudita, ao mesmo tempo, em que adotou uma postura rígida em relação ao Irã. Sua administração retirou-se do acordo nuclear iraniano, restabelecendo sanções que reduziram a produção de petróleo do Irã de 3,8 milhões de barris por dia (bpd) em 2018 para 1,93 milhão bpd em 2020. No início de 2025, a produção no país se recuperou para 3,28 milhões bpd, com a China sendo seu principal parceiro comercial. Se Trump restabelecer sanções rígidas, isso poderia retirar um volume significativo do fornecimento global, levando a um possível aumento dos preços. 

 

  • América Latina: O setor petrolífero da Venezuela continua penalizado por sanções dos EUA. Enquanto a administração Biden afrouxou algumas restrições em 2023, assessores de política externa de Trump defendem a retomada da pressão econômica. Se Trump restabelecer sanções totais, as exportações da Venezuela, estimadas em 850.000 bpd, podem ser ainda mais reduzidas, apertando a oferta global. 

 

Produção Doméstica de Petróleo e Gás: Perspectivas Limitadas de Crescimento 

Embora Trump historicamente tenha promovido a produção doméstica de energia, a realidade do mercado pós-pandemia sugere um crescimento limitado: 

  • Tendências no Número de Plataformas: Em janeiro de 2020, os EUA tinham 796 plataformas ativas, mas esse número despencou para 251 em meados de 2020 devido às interrupções da COVID-19. Embora tenha recuperado parcialmente, atingindo 584 plataformas no início de 2025, esse número permanece significativamente abaixo dos níveis pré-pandemia, refletindo a cautela do setor. 

 

  • Consolidação da Indústria: As empresas mudaram o foco da expansão para a lucratividade, levando a grandes fusões. Negócios recentes incluem a aquisição de US$ 4,08 bilhões da Double Eagle pela Diamondback Energy e a compra da Hess por US$ 53 bilhões pela Chevron. Esses movimentos indicam uma preferência por eficiência em vez de exploração de alto risco. 

 

  • Preocupações com Investimentos de Longo Prazo: As empresas de exploração e produção (E&P) estão relutantes em investir em novos projetos que podem não gerar retornos antes da próxima mudança regulatória. O setor permanece cauteloso, priorizando disciplina financeira sobre expansão agressiva de perfuração. 

 

Implicações Comerciais e Tarifárias para os Mercados de Energia 

As políticas tarifárias anteriores de Trump prejudicaram o comércio global, e uma nova guerra comercial poderia complicar ainda mais os fluxos energéticos:

  • Canadá e México: Em 2023, os EUA importaram 6,5 milhões bpd de petróleo bruto, com o Canadá fornecendo quase 60% e o México contribuindo com cerca de 10%. Quaisquer ajustes tarifários sob o USMCA podem impactar as operações de refino, especialmente no Oriente Médio, que depende fortemente do petróleo canadense. 

 

  • China: Em 2024, a China importou 11,1 milhões bpd de petróleo bruto, com 555.000 bpd provenientes dos EUA. Além disso, a China importou 77 milhões de toneladas de GNL, com 1,6 milhão de toneladas dos EUA. Se as tarifas aumentarem, a China poderá reduzir sua dependência das exportações de energia dos EUA, redirecionando compras para fornecedores do Oriente Médio e da Rússia. Uma nova guerra comercial poderia aumentar as pressões inflacionárias nos EUA e prejudicar os fluxos comerciais de energia, elevando os custos para os consumidores. 

 

  • União Europeia e América Latina: A escalada tarifária pode dificultar as exportações de biocombustíveis, petróleo bruto e GNL. Brasil e Argentina, fornecedores-chave de etanol e gás natural, podem buscar compradores alternativos se as tarifas se tornarem muito restritivas. A UE, um grande consumidor de produtos petrolíferos refinados e GNL dos EUA, também pode impor contramedidas. Se tarifas retaliatórias forem introduzidas, os produtores de energia dos EUA podem enfrentar acesso reduzido ao mercado internacional e custos de produção mais elevados, levando a uma maior volatilidade nos preços.

 

Conclusão 

Uma segunda administração Trump pode introduzir volatilidade nos mercados globais de energia por meio da desregulamentação, mudanças na política externa e disputas comerciais. Enquanto a suspensão de sanções à Rússia poderia aumentar a oferta de petróleo e reduzir os preços, posturas agressivas em relação ao Irã e à Venezuela podem neutralizar esse efeito.  

No cenário doméstico, apesar da pressão de Trump por um aumento na produção, a consolidação da indústria e as estratégias cautelosas de investimento limitam o crescimento rápido. Enquanto isso, novas tarifas sobre Canadá, México, China e América Latina podem desorganizar o comércio de energia, levando a custos mais elevados e realinhamentos de mercado.

 

 

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