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Mercado de cacau: o que explica a recente queda nos preços?

Escrito por Hedgepoint Global Markets | Nov 3, 2025 5:40:20 PM

 

O mercado de cacau atravessa um período de intensa volatilidade, com os contratos futuros registrando quedas acentuadas. No início de outubro, as cotações atingiram os menores patamares em um ano, acumulando reduções semanais superiores a 10%. 

 

Este recuo marca uma correção expressiva após um ciclo de valorização que impulsionou o preço do cacau a recordes históricos. Esta mudança de tendência está ligada a múltiplos fatores, como condições climáticas adversas, desafios logísticos, o cenário macroeconômico global e uma redução na demanda.

 

Neste artigo, vamos abordar:

 

 

Boa leitura!

 

O que causou a recente queda nos preços do cacau?

 

Os preços do cacau registraram quedas acentuadas recentemente devido à pressão de oferta no mercado e fatores técnicos, após um período em que atingiram patamares considerados insustentáveis no longo prazo.

 

No início de outubro, os contratos futuros do mercado de cacau acumularam quedas semanais superiores a 10%. Em Nova York, o preço recuou para cerca de US$ 6.190 por tonelada na semana de 3 de outubro, enquanto em Londres ficou em torno de 4.288 GBP/t. Esse movimento expressivo de baixa ocorre após a commodity ter atingido seu pico de valorização em dezembro de 2024, quando foi negociada acima de US$ 12 mil por tonelada em Nova York. Desde agosto, o mercado passa por um ajuste gradual de queda nos preços.

 

De acordo com Carolina França, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint, a pressão de oferta aumentou após a atualização dos preços mínimos pagos aos produtores em Gana e na Costa do Marfim. A Costa do Marfim elevou o preço garantido aos agricultores em mais de 25%, para cerca de US$ 5 mil por tonelada. Gana, por sua vez, aumentou o valor para aproximadamente US$ 4,6 mil. Esse aumento nos preços pagos aos produtores, junto com o retorno das chuvas na África Ocidental, reforça a expectativa de maior disponibilidade de grãos no início da safra 2025/26. 

 

A queda nos preços no mercado de cacau também está relacionada a uma demanda global mais fraca, refletindo o cenário anterior de preços elevados. O volume global de moagem, que indica o uso de cacau pela indústria, diminuiu cerca de 500 mil toneladas desde o pico de 2022. 

 

No caso da Cocoa Association of Asia (CAA), a queda foi de 17,08%, influenciada, sobretudo, pela redução significativa observada na Malásia, onde o volume processado ficou 35,1% abaixo do registrado no mesmo trimestre de 2024. Ainda assim, resultados positivos em países como Indonésia e Singapura ajudaram a suavizar a retração regional.

 

Apesar da previsão de recuperação na oferta, os estoques certificados da ICE (Bolsa de Nova York) continuam bem abaixo da média histórica, embora estejam aumentando em relação aos níveis mais baixos do início do ano. 

 

Adicionalmente, o cenário macroeconômico global, com incertezas, segue influenciando o mercado. O posicionamento dos fundos de investimento em cacau permanece cauteloso, em função do shutdown nos Estados Unidos. Essa mudança na política monetária afeta as atividades e o consumo. Por meio do dólar, a política monetária também influencia o desempenho de outras moedas e os mercados de commodities. 

 

Na Europa, os dados mais recentes da ICE Futures Europe, os especuladores ampliaram suas posições líquidas vendidas em 2.552 lotes até 21 de outubro, totalizando 15.609 lotes.

 

Qual o impacto do clima no mercado de cacau?

 

O clima é um fator crucial para o mercado de cacau, pois condições desfavoráveis nos próximos meses podem reduzir o potencial de entrega na África Ocidental, a principal região produtora. As perspectivas iniciais para a safra 2025/26 indicam possibilidade de superávit, mas o volume desse excedente dependerá de um regime hídrico equilibrado nos próximos meses. A ocorrência de chuvas em momentos importantes, mesmo que o total acumulado na safra 2024/25 tenha ficado abaixo da média, ajudou no desenvolvimento dos frutos e garantir uma taxa maior de sobrevivência.

 

Nesse aspecto, ainda é necessário um clima equilibrado ao longo dos próximos meses, em especial novembro, o que vai influenciar no desempenho final da safra principal e início da safra intermediária da África Ocidental.

 

O NOAA/CPC (Centro de Previsão Climática dos EUA) aumentou para 71% a chance de ocorrência do fenômeno La Niña entre outubro e dezembro. Este evento climático costuma trazer mais umidade e temperaturas amenas para a África Ocidental, o que pode diminuir o risco de estresse hídrico na estação seca. 

 

No entanto, há preocupações sobre como o La Niña pode afetar os ventos "Harmattan", correntes secas e carregadas de poeira que podem comprometer o desenvolvimento dos frutos. No Equador, o La Niña pode resultar na redução do volume de chuvas no início do período chuvoso, o que exige maior atenção à umidade do solo. Os riscos climáticos, as doenças nas plantações e o envelhecimento das árvores continuam sendo desafios importantes e estruturais para o setor. Por esses motivos, o mercado não deve retornar aos patamares de US$ 2 mil a US$ 3 mil por tonelada vistos antes de 2023.

 

Como esse cenário impactou as importações de cacau?

 

O período de preços recordes e escassez de oferta, que vigorou no mercado antes da recente correção de preços, enfraqueceu a demanda global e alterou drasticamente o fluxo de importações. Os principais impactos são vistos na retração de compras da União Europeia e no aumento da participação do Equador nas importações dos Estados Unidos.

 

Nos EUA, a importação líquida total de cacau cresceu quase 70% em relação ao ano anterior, voltando a níveis próximos da média histórica. Esse resultado sugere que a demanda é mais resiliente do que em outras regiões e ajudou a manter a moagem na região, que registrou leve crescimento.

 

No período acumulado de janeiro a julho de 2025, o Equador forneceu cerca de 30% do total de amêndoas recebidas pelos EUA. Isso é um aumento expressivo comparado à média de apenas 13% nos últimos cinco anos. O aumento da participação do Equador ocorreu ao mesmo tempo em que a Costa do Marfim e Gana tiveram menor participação. A composição dos produtos importados pelos Estados Unidos também se alterou. A participação da manteiga de cacau avançou de 15% em 2024 para 20% em 2025. Enquanto isso, a importação do pó recuou de 17% para 15%, um movimento possivelmente ligado ao aumento do preço desse item.

 

Na União Europeia, o cenário é distinto. O total acumulado líquido de importações ainda está quase 3,99% abaixo do ano anterior. A queda é resultado direto dos custos de compra mais altos. A Europa teve uma diminuição mais acentuada na moagem, possivelmente influenciada pela menor quantidade de importações. A preferência europeia por amêndoas africanas de maior qualidade mantém o custo elevado, pois Costa do Marfim e Gana praticam diferenciais de preço maiores em comparação com outras origens.

 

Quais as perspectivas de oferta para o próximo ciclo?

 

As projeções iniciais para a safra 2025/26 indicam a possibilidade de um superávit. A previsão da Hedgepoint é que o volume excedente possa se aproximar de 360 mil toneladas, um aumento considerável em relação ao superávit projetado de 37 mil toneladas para o ciclo 2024/25. Essa projeção se baseia em perspectivas mais positivas na África Ocidental, no aumento da produção em países como o Equador e na diminuição da moagem.

 

Apesar das expectativas para o próximo ciclo, o equilíbrio global entre oferta e demanda continua estreito, o que mantém a instabilidade alta e reforça a sensibilidade do mercado a novos dados climáticos, comerciais e de moagem capazes de alterar rapidamente o cenário.

 

Como acompanhar as atualizações e tendências?


O mercado de cacau segue em um momento de transição, influenciado por correções de preços, fatores climáticos e mudanças globais de oferta e demanda. Nesse cenário, acompanhar dados atualizados e análises especializadas é fundamental para identificar movimentos e oportunidades.

 

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