O mercado de café ganhou um novo panorama em 20 de novembro de 2025, com a suspensão das tarifas adicionais de 40% sobre os grãos brasileiros (exceto café solúvel). A medida trouxe alívio para o setor, mas o preço do café no Brasil encontra limitações para uma correção mais acentuada no curto prazo devido aos baixos estoques nos destinos.
Além da questão geopolítica, fatores como a relutância dos cafeicultores brasileiros em realizar novas vendas, mesmo após o alívio tarifário, e as incertezas climáticas trazendo volatilidade as cotações, exigindo uma atenção redobrada dos agentes da cadeia de commodities para a dinâmica de oferta e demanda global de café.
Neste artigo, vamos analisar:
Boa leitura!
Os estoques mundiais de café estão em um patamar historicamente baixo, o que oferece suporte aos preços no curto prazo e limita a correção esperada após o alívio tarifário. De acordo com o USDA, a produção de café para a safra 2025/26 deve superar a do ano anterior em 3,5 milhões de sacas, alcançando o recorde histórico de 178,8 milhões.
A situação de escassez de café não se restringe apenas ao Brasil, onde os cafeicultores demonstram pouca intenção em realizar novas vendas, mesmo com o fim da sobretaxa dos EUA. Os estoques certificados de arábica da ICE continuam acima das 400 mil sacas. Após meses em declínio, os estoques certificados do Arábica da ICE mostraram ligeira recuperação, com os estoques certificados de arábica em 439,2 mil sacas, com uma variação mensal positiva de 9,51%. No mesmo período, os estoques certificados de robusta fecharam em 690, 8 mil sacas, ou seja, apesar da queda recente, os estoques permanecem acima do início do ano e do ano anterior, indicando maior disponibilidade geral em 2025.
Adicionalmente, a situação de baixos estoques se repete nos mercados de destino. Os estoques na União Europeia (UE) e no Japão, mercados importantes, também se encontram em um dos níveis mais baixos dos últimos anos. A Federação Europeia registrou uma queda em setembro e outubro para 7,8 milhões de sacas, o menor nível desde maio e 9,1% abaixo do ano anterior.
No Japão, os estoques da Associação de Café do Japão estão abaixo dos níveis de 2024 e nos mínimos para o período. Em contrapartida, o consumo aparente na UE demonstrou sinais de recuperação na safra 24/25, finalizando acima da média de 10 anos e começando a safra 25/26 com força. Por consequência, a forte demanda no inverno do Hemisfério Norte deve sustentar o consumo e pressionar ainda mais os estoques globais.
As incertezas geopolíticas e as condições climáticas adversas nos países produtores dessa commodity são fatores que influenciam o mercado, gerando volatilidade e impactando o preço do café no Brasil e no mundo.
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de cessar as tarifas adicionais de 40% sobre os grãos brasileiros (exceto café solúvel) em 20 de novembro de 2025, eliminou uma grande incerteza geopolítica. A suspensão das duas tarifas, que incluíam taxações de reciprocidade (10%) e de emergência nacional (40%), permite que o Brasil volte a concorrer em condição de igualdade tarifária com outros países exportadores de café. Após a isenção, a perspectiva é de recuperação dos estoques de café nos Estados Unidos e um viés de baixa ou acomodação dos preços na Bolsa de Nova York.
Com relação ao aspecto climático, As chuvas constantes e volumosas desde outubro, causadas por diversos tufões e tempestades, impediram produtores de colherem o café e atrasaram a secagem dos grãos, além de trazerem problemas logísticos. No entanto, com a redução das chuvas este mês e a normalização dos trabalhos, mais café tem chegado ao mercado.
Além disso, mesmo com o atraso dos trabalhos de campo nos últimos meses, as exportações de café do Vietnã começam a mostrar sinais de recuperação. Nos dois primeiros meses da safra 25/26 (out. e nov.) o país asiático já exportou 2,6 M de scs, aumento de 42,2% frete ao mesmo período de 24/25. Com a maior produção esperada esse ano e com a colheita finalmente ganhando ritmo, a expectativa é que os embarques do país sigam em níveis mais altos, aumentando a oferta nos próximos meses.
É válido lembrar que outras origens, como Uganda, Etiópia, Colômbia e os países da América Central também estão em seu período de colheita da safra 25/26, o que tende a contribuir para as exportações e fluxos comerciais globais de café nos próximos meses.
As projeções para a safra brasileira 26/27 indicam um aumento na produção de café, especialmente de arábica, após o ciclo de bienalidade negativa da safra anterior, contribuindo para a recuperação dos estoques mundiais a médio prazo. A produção total de café no Brasil na safra 26/27 pode atingir entre 71 e 74,4 milhões de sacas de café beneficiadas.
A produção de café arábica está projetada na faixa de 46,5 a 49 milhões de sacas para 26/27, um aumento significativo de 23,3% a 29,9% em comparação com os 37,7 milhões de sacas colhidas no ciclo 25/26. O desenvolvimento da safra 26/27 enfrentou desafios, como um período de seca entre agosto e o início de outubro, que atrasou a floração e causou perdas nas primeiras flores em setembro. No entanto, chuvas abundantes retornaram a partir de meados de outubro, permitindo uma segunda floração e restaurando as expectativas positivas. A produtividade, no entanto, permanece desigual entre as regiões produtoras.
A produção de café conilon para 26/27 é esperada entre 24,6 e 25,4 milhões de sacas. Este volume representa uma queda de 6% a 9% em relação à safra excepcional de 25/26, que foi de 27 milhões de sacas. A expansão e renovação das áreas cultivadas com conilon, impulsionada pelos preços mais altos do robusta desde 2023, compensaram parcialmente a queda esperada.
Estas estimativas de produção têm um impacto direto no preço do café no Brasil. Isso ocorre, pois uma safra volumosa, especialmente de arábica, tende a pressionar as cotações para baixo no longo prazo, aliviando as preocupações com a oferta global. Entretanto, a incerteza persiste, pois os campos de café estão na fase crucial de enchimento dos grãos, que vai de dezembro a março.
Os níveis de precipitação neste período influenciarão diretamente o rendimento do processamento. Qualquer adversidade climática inesperada durante esta fase pode provocar picos de preços de curto prazo, mesmo com as expectativas de maior produção brasileira.
O mercado de café vive um momento de forte volatilidade e movimentos dinâmicos. O suporte dos preços se mantém pelos baixos estoques e pela relutância dos produtores brasileiros em vender, apesar do alívio nas tarifas. As oscilações no mercado, impulsionadas pelo clima, por choques de oferta e por fatores geopolíticos, demandam uma análise aprofundada para que os agentes da cadeia possam tomar decisões informadas e mitigar riscos.
Para navegar neste cenário complexo e entender como as projeções de safra e a dinâmica de estoques afetam o preço do café no Brasil, é essencial ter acesso à inteligência de mercado. A Hedgepoint Global Markets oferece análises detalhadas sobre o mercado de café e outras commodities agrícolas, com insights que ajudam a antecipar movimentos e identificar oportunidades.
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