USD-BRL em Foco: Superquarta com corte de juros nos EUA

Na Superquarta, o Fed cortou juros em 0,25 p.p. e o BC manteve a Selic em 15%. O dólar oscilou em R$5,30, refletindo volatilidade e expectativas.

Hedgepoint Global Markets
Sep 24, 2025 9:38:58 AM

Na semana de 15 a 19 de setembro, o dólar comercial apresentou comportamento volátil, encerrando o período com uma leve desvalorização frente ao real. A cotação oscilou em torno de R$5,30 na média, com máxima aproximada de R$5,3563 na segunda-feira 15/09 e mínima de R$5,2745 em 17/09, logo após o anúncio do FED nos Estados Unidos confirmando a redução da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, conforme já esperado pelo mercado.

 

No fechamento oficial de sexta-feira (19), o dólar ficou em torno de R$5,3243. Esse nível representou uma leve apreciação semanal de cerca de 0,13% do valor da moeda norte-americana, refletindo um cenário de câmbio com alta volatilidade na semana, porém em um fechamento dentro da média.  

  

Desempenho Semanal do USD/BRL entre 15 e 19/set 

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 Fonte: LSEG, Hedgepoint 

 

Cenário Brasileiro: Economia e Principais Acontecimentos  

Os últimos dias trouxeram atualizações importantes sobre as expectativas para a economia brasileira. No Boletim Focus divulgado na segunda-feira (15), as projeções de mercado mantiveram uma perspectiva de inflação (IPCA) de cerca de 4,83% para 2025, ligeiramente abaixo da previsão anterior de 4 semanas (4,86%), mas mantendo o nível para a semana anterior.  

 

Para 2026 e 2027, as estimativas de inflação permaneceram próximas de 4,29% e 3,9%, respectivamente, indicando expectativas ancoradas próximas às metas. Quanto ao PIB, o mercado projeta um crescimento moderado: cerca de 2,16% em 2025 (praticamente estável em relação à estimativa anterior) e algo em torno de 1,8% em 2026, sinalizando otimismo contido para a atividade econômica. Na frente fiscal, destaque para a expectativa de déficit primário. A mediana das projeções do Focus para 2025 recuou ligeiramente para 0,51% do PIB (déficit primário do setor público consolidado), indicando uma pequena melhora esperada nas contas públicas em comparação à projeção de 0,52% do PIB há um mês.  

 

Esse ajuste sugere que o mercado vê algum progresso no esforço fiscal, embora ainda distante da meta oficial do governo de déficit zero neste ano (com tolerância de ±0,25% do PIB). Para 2026, a projeção de déficit primário manteve-se em cerca de 0,60% do PIB, em linha com a meta do próximo ano (que é obter um pequeno superávit primário de 0,25% do PIB no governo central).  

 

Em relação à dívida pública, as expectativas permaneceram estáveis – por exemplo, a dívida líquida do setor público projetada para 2025 ficou por várias semanas em torno de 65,8% do PIB, indicando estabilidade nas previsões de endividamento. 

 

 Projeções Boletim Focus – Banco Central do Brasil (22/set) 

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Fonte: Banco Central do Brasil

 

Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na quarta-feira, dia 17, o Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15,00% ao ano. Essa decisão já era esperada pelo mercado e já vinha sendo precificada nas últimas semanas, o que marcou a segunda manutenção consecutiva após o fim do ciclo de aperto monetário em julho. O BC justificou a manutenção dos juros elevados afirmando que os riscos inflacionários ainda permanecem elevados e que o ambiente econômico requer cautela na condução da política monetária.  

 

No comunicado, o Copom reforçou que continuará vigilante e avaliará se o nível “significativamente contracionista” atual dos juros, mantido por um período prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. Não houve indicação explícita de quando poderá iniciar um ciclo de corte – ao contrário, o Comitê destacou que poderá ajustar os passos futuros da política monetária conforme necessário e não hesitará em retomar altas de juros caso a trajetória de desinflação seja comprometida.  

 

Apesar do tom cauteloso, o Banco Central reconheceu uma ligeira melhora na projeção de inflação: a estimativa interna para o IPCA de 2025 foi revisada de 4,9% para cerca de 4,8%, sinalizando uma perspectiva um pouco mais favorável. A manutenção da Selic em 15% mantém os juros no patamar mais alto desde 2006, evidenciando a postura dura do BC contra a inflação. Essa decisão está alinhada com as expectativas de mercado coletadas pelo próprio Focus, que indicavam consenso de que não haveria cortes neste momento. 

 

Com a decisão de setembro, o mercado ajustou suas expectativas sobre os próximos passos do Banco Central, indicando que provavelmente não devemos ver cortes de juros em 2025, com a redução da Selic provavelmente ocorrendo em janeiro de 2026.  

 

De fato, todas as projeções apontam para um provável pequeno corte em 0.25 ponto somente para janeiro de 2026, isso, claro, com as perspectivas econômicas se mantendo sobre um possível controle inflacionário até lá, juntamente com um esfriamento da economia. Lembrando que, com juros menores, o “custo” do dinheiro diminui, atraindo maiores possibilidades de investimentos para a economia local. 

 

Por outro lado, vemos a disparidade entre as taxas de juros dos Estados Unidos e Brasil ficarem ainda mais evidentes, conforme abaixo: 

  EUA/Brasil – Comparação Taxas de Juros entre 2021 a 2025 

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O diferencial de juros torna-se ainda mais atrativo para a operação conhecida como “carry trade”, estratégia em que o investidor toma recursos emprestados em moedas de países com taxas de juros mais baixas e os aplica em moedas que oferecem remuneração mais elevada, capturando o chamado “interest rate differential”.  

 

No entanto, sob uma perspectiva de longo prazo, juros excessivamente altos podem se tornar insustentáveis para o desenvolvimento da economia local. Isso ocorre porque empresários e investidores passam a comparar a rentabilidade de expandir seus negócios produtivos com a de alocar capital em aplicações financeiras de baixo risco, que se tornam muito mais atraentes.  

 

Nesse cenário, parte relevante dos recursos é direcionada ao mercado financeiro em vez de estimular o “giro” da economia real, resultando em estagnação da atividade e queda na geração de empregos e renda. Essa dinâmica aumenta a pressão sobre o Banco Central, cuja política monetária deve equilibrar a atração de capitais externos com a preservação do nível de atividade doméstica. 

 

Estados Unidos

A política monetária norte-americana foi o centro das atenções globais na última semana. Em sua reunião dos dias 16 e 17 de setembro, o Federal Reserve decidiu cortar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, marcando a primeira redução de juros em 2025. Com isso, a taxa dos Fed Funds passou do patamar de 4,25–4,50% para uma faixa de 4,00–4,25% ao ano. 

 

Esta decisão do Fed veio após um período prolongado de estabilidade dos juros – o Fed havia mantido taxas elevadas desde 2024 para combater a inflação –, e sinaliza potencialmente o início de um ciclo de afrouxamento monetário.  

 

No comunicado, a instituição justificou o corte com base em sinais claros de arrefecimento do mercado de trabalho e na percepção de que a inflação, embora ainda acima da meta, tem mostrado tendência de moderação controlada. A decisão, que não foi unânime (houve um membro votando por um corte maior de 0,50 p.p.), reflete um compromisso do Comitê entre apoiar o emprego e manter a luta contra a inflação. 

 

O presidente do Fed, Jerome Powell, descreveu o movimento como um “corte para gestão de riscos”, indicando que o banco central está calibrando cuidadosamente a política: quer aliviar as condições financeiras o suficiente para sustentar o crescimento e o emprego, mas sem perder de vista que a inflação ainda exige vigilância.  

 

Na coletiva, Powell destacou que as próximas decisões dependerão dos dados econômicos – reconhecendo que a conjuntura é desafiadora, com inflação ainda acima da meta de 2% (a inflação anual ao consumidor está em torno de 3%) ao mesmo tempo em que o desemprego subiu um pouco. 

 

Em suma, o Fed adotou um tom cauteloso onde iniciou cortes modestos e deixou “a porta aberta” para continuar reduzindo os juros se o esfriamento da economia prosseguir, mas evitou prometer um ciclo agressivo de estímulos. A reação dos mercados foi positiva, com alta nas bolsas no dia seguinte e queda dos rendimentos dos treasuries de curto prazo, refletindo alívio com a perspectiva de juros mais baixos adiante. 

 

O mercado já havia precificado basicamente este corte de juros de 0.25 pontos, com uma curva de 96% de apostas positivas, segundo o que mostramos no último relatório com base na pesquisa da CME, a bolsa americana de futuros. Tanto o mercado quando as projeções atualizadas do próprio Fed sugerem que a maioria dos dirigentes antevê mais dois cortes de mesma magnitude (0.25pp) ainda para 2025, implicando em uma taxa de juros na casa de 3.5% a 3.75% ao ano. 

 

Acompanharemos de perto juntamente com o Fed as perspectivas e resultados da economia americana para o próximo mês, bem como os discursos de Powell frente aos dados de inflação e geração de empregos, alicerces para decisão monetária do Fed com relação aos juros. 

 

América Latina 

Países em destaque: Na última semana, alguns países latino-americanos ganharam os holofotes por seus acontecimentos econômicos e políticos. Argentina foi um dos principais destaques, em meio aos resultados de sua estratégia econômica heterodoxa: o país registrou nova queda da inflação anual, surpreendendo positivamente os analistas, ao mesmo tempo em que seguiu implementando medidas cambiais acordadas com o FMI. 

 

México também esteve em evidência, com indicadores de inflação controlada e crescimento resiliente, além de movimentações do governo em política comercial. 

 

Outro país de relevância foi o Peru, citado em relatórios como uma das economias de crescimento mais rápido na região em 2025, graças à recuperação de investimentos e queda da inflação local. 

 

Já no campo político-econômico, Bolívia chamou atenção ao adotar medidas drásticas para lidar com sua situação fiscal delicada, incluindo a venda de reservas de ouro para obter liquidez. 

 

Chile apareceu no radar internacional devido ao aquecimento do cenário político doméstico – o país caminha para eleições presidenciais e um debate acirrado entre candidatos sobre rumos econômicos, o que mantém investidores atentos. 

Por fim, Colômbia teve destaque nas discussões ambientais e econômicas, com seu presidente promovendo ideias polêmicas (como restrições à exploração de petróleo) visando equilibrar crescimento e sustentabilidade. 

 

Esses países, por diferentes motivos, estiveram no spotlight latino-americano durante a semana, refletindo a diversidade de desafios e dinâmicas da região.

 

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