Quais são as perspectivas para a produção de grãos na Argentina?

Entenda como o clima extremo, os problemas logísticos e as perspectivas econômicas afetam a produção de grãos e oleaginosas na Argentina.

Hedgepoint Global Markets
Aug 22, 2025 2:00:36 PM

A produção de cereais e oleaginosas da Argentina está enfrentando uma de suas melhores safras dos últimos anos, embora não tenha atingido níveis recordes como originalmente esperado. O ciclo 2024/25, que começou com boas expectativas, foi afetado por uma série de fenômenos climáticos. 

 

Houve uma combinação de seca, ondas de calor intenso e, posteriormente, chuvas excessivas. Isso afetou diretamente a produtividade das lavouras, a dinâmica logística e as perspectivas comerciais do país, que é um dos maiores exportadores mundiais de soja e milho. 

 

Neste artigo, você entenderá: 

 

  • Quais foram os principais eventos climáticos que influenciaram a produção de grãos na Argentina; 
  • Como esses fenômenos afetaram a produtividade da soja e do milho; 
  • Os efeitos diretos na logística interna e nos embarques para os portos; 
  • As possíveis consequências para o mercado de grãos na América Latina; 
  • Também identificaremos as tendências e os riscos climáticos para as próximas safras. 

Para nos aprofundarmos na análise desse cenário, convidamos Antonella Ortiz, Gerente de Relacionamento com Clientes da Hedgepoint, que acompanha de perto a evolução da safra no país. Boa leitura! 

 

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Safra de milho e soja 2024/2025: Brasil e Argentina em busca de recordes. 

Clima desafiador: do otimismo inicial às perdas regionais 

O início do ciclo foi promissor. As condições de plantio, embora não ideais em termos de umidade, foram satisfatórias graças às chuvas que recuperaram a umidade do solo. Entretanto, janeiro e fevereiro trouxeram um estresse hídrico severo e temperaturas acima da média. 

Justamente quando o mercado havia desistido da ideia de uma safra recorde, um novo fator climático surpreendeu a todos. Em meados de maio, uma tempestade extrema atingiu principalmente o norte da província de Buenos Aires.  

"Tivemos uma precipitação fora do comum. Em algumas localidades, choveu o equivalente a toda a precipitação anual: até 400 milímetros em poucos dias", comenta Antonella. De acordo com o órgão governamental INTA, logo após o evento, foi observado excesso de água no solo em grande parte da área produtiva". 

As enchentes prejudicaram a colheita e ameaçaram entre 2 e 3 milhões de toneladas de soja que ainda estavam nos campos. Embora mais de 80% da soja já tenha sido colhida, o restante foi afetado pela saturação do solo. 

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Estresse hídrico nas culturas sul-americanas e seus padrões climáticos. 

Efeitos na produção de soja e milho: dados e análises 

Soja 

Até antes das fortes chuvas de maio, as estimativas de produção de soja eram otimistas. "As projeções anteriores ao evento eram de 50 milhões de toneladas pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires, enquanto a Bolsa de Valores de Rosário estimava 48,5 milhões", diz Antonella. 

Apesar do impacto das enchentes, estimamos que o dano deveria ser relativamente limitado na safra total. Minha previsão era de 48 milhões de toneladas, como um piso. As projeções mais recentes, com a debulha quase concluída, são de 50,3 milhões de toneladas (Bolsa de Cereais de Buenos Aires) e 48,5 milhões de toneladas (Bolsa de Valores de Rosário).
 

Cabe destacar que "apesar dos danos localizados, a soja cresceu em área plantada nesta safra: mais de 17,75 milhões de hectares, o que representa um aumento de 7,9% em relação ao ciclo anterior, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário", detalha. 

Milho 

O milho, por outro lado, já enfrentava desafios estruturais antes dos recentes fenômenos climáticos. A presença no milho da chamada "chicharrita" causou uma queda de quase 20% na área plantada. "Essa praga quebrou uma tendência de nove anos de crescimento contínuo na área dedicada ao milho", diz o especialista. 

Mesmo assim, as fortes chuvas de maio tiveram um impacto muito menor sobre o milho, uma vez que grande parte da safra já havia sido colhida.  Portanto, não eram esperados ajustes significativos nas projeções de produção, que permaneceram sólidas e atualmente indicam 48,5 milhões de toneladas (Bolsa de Valores de Rosário) e 49 milhões de toneladas (BCBA).  

Produção de grãos: qualidade e gargalos logísticos 

A redução do volume não foi o foco das preocupações, mas a qualidade dos grãos sim, devido ao excesso de umidade. A água estagnada por mais de três ou quatro dias pode estragar completamente alguns lotes. Felizmente, "o clima mais seco e frio que se seguiu ajudou a acelerar a drenagem e a conclusão da colheita", observa Antonella. 

No transporte, os efeitos foram imediatos. "A rede rodoviária da Argentina foi gravemente afetada. O fluxo de caminhões para os portos foi reduzido em mais de 50% durante os dias críticos", lembra ela. 

Para se ter uma ideia, antes das chuvas, os portos recebiam cerca de 3.000 caminhões de soja e 1.700 de milho por dia, um volume médio de acordo com a sazonalidade da colheita.  Esses números caíram temporariamente. 

Efeitos no mercado latino-americano 

Embora os impactos sobre a produção de cereais e oleaginosas na Argentina sejam localmente relevantes, seu peso no cenário mundial é limitado, especialmente no caso da soja. De acordo com os dados do relatório de junho do USDA, as reservas mundiais de soja são abundantes, com projeções de 124,2 milhões de toneladas para 2024/25, número que deve aumentar para 125,3 milhões na safra seguinte.  

Diante desse cenário, a perda potencial de 2 a 3 milhões de toneladas na Argentina não deve gerar grandes distorções nos preços internacionais. O efeito mais direto será sobre a produção de subprodutos, como farelo e óleo de soja, uma vez que o país está focado no setor de processamento. 

No caso do milho, a situação é semelhante. A demanda interna da Argentina está estável em torno de 14,5 milhões de toneladas. Portanto, o saldo exportável funciona como uma variável de ajuste em caso de possíveis quedas. No entanto, a oferta mundial abundante, com os EUA plantando uma área recorde e o Brasil colhendo mais de 130 milhões de toneladas, ajuda a equilibrar o mercado. 

E quanto ao futuro da produção de grãos na Argentina? 

Os riscos climáticos imediatos parecem estar sob controle. Com relação à próxima safra, "não há sinais claros de El Niño ou La Niña, o que favorece um cenário de neutralidade climática", diz Antonella. 

Com relação à temporada atual, a colheita da soja está quase concluída, de acordo com a Bolsa de Cereais, em 19 de junho, estimava-se que 96,5% da área havia sido colhida. O trabalho restante está concentrado no centro de Buenos Aires, onde as condições de alagamento ainda dificultam o acesso das máquinas. 

No restante da região central, o clima frio recente ajudou a secar os lotes de terra. As geadas recentes podem até ajudar a reduzir a população de cigarrinhas, o que diminui o risco para o milho de 2025.  

O maior fator de incerteza continua sendo o macroeconômico: a taxa de câmbio, o acesso ao crédito e o retorno dos impostos retidos na exportação (em 1º de julho termina a queda transitória) devem influenciar as decisões de investimento e plantio. 

Entenda os movimentos que moldam o setor agrícola. 

Apesar de não ter alcançado uma safra recorde, a produção de cereais e oleaginosas da Argentina continua sólida após superar importantes desafios climáticos e logísticos. Esse cenário reforça a resiliência do setor agrícola argentino. 

Ao analisar o contexto atual da Argentina, fica clara a importância de levar em conta não apenas as variáveis climáticas, mas também as econômicas. Se você deseja entender como essas forças impactam seus negócios, a Hedgepoint Market Intelligence pode ser sua melhor aliada. 

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  • Leia mais:
    A análise da Hedgepoint para o mercado agrícola global após o relatório WASDE.

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