Crise imobiliária na China: impactos e medidas
A crise imobiliária na China começou em 2021 e tem impactado a economia local e global desde então. Em seu auge, o setor imobiliário chinês já chegou a representar cerca de um quarto do PIB do país. Hoje, os preços dos imóveis da China caem periodicamente, registrando em junho de 2024 a queda mais rápida em 9 anos.
Neste texto, vamos entender o que causou esse colapso, qual é o cenário atual da situação, quais são as medidas de retenção e mais. Boa leitura!
Como começou a crise imobiliária na China?
A crise imobiliária chinesa começou principalmente por meio de políticas monetárias concedidas às incorporadoras locais. Os bancos estatais disponibilizaram juros baixos às empresas para impulsionar a construção de moradias ao redor do país. Contudo, essa expansão acelerada resultou no endividamento das empresas que financiaram grandes projetos, muitas vezes sem capital suficiente para cobrir os custos. À medida que menos compradores adquiriam novos imóveis, o setor começou a enfrentar uma crise severa.
Abaixo, você pode acompanhar o pico de construção de imóveis na China em 2021 e a redução nos anos seguintes:

Fonte: KPMG
Para suprir os gastos, as incorporadoras aumentaram os preços dos imóveis, mas o resultado no mercado foi inverso: os altos valores diminuíram a demanda dentro do país. Isso gerou um efeito em cadeia que você acompanha abaixo:
1 – Políticas restritivas às incorporadoras
O governo local impôs restrições ao endividamento das construtoras, limitando suas dívidas de acordo com a proporção dos seus ativos.
2 – Pressão ao fluxo de caixa das companhias
As empresas imobiliárias enfrentaram dificuldades para obter novos financiamentos e refinanciar suas dívidas, devido às políticas restritivas.
3 – Excesso de oferta
A construção em larga escala e o envelhecimento da população resultaram no aumento da oferta de imóveis no país. Veja os dados mais recentes sobre o estoque imobiliário na China:

Fonte: ICIS
4 – Crise em uma das maiores empresas imobiliárias
A Evergrande entrou em colapso financeiro devido ao seu endividamento. Isso causou uma série de problemas no mercado de crédito, prejudicando bancos e investidores. Outras incorporadoras, como a Country Garden, também enfraqueceram após o início da crise.
Em agosto de 2023, as ações da Evergrande despencaram 79%. A Country Garden reportou um prejuízo de US$ 6,7 bilhões no 1º semestre do mesmo ano.
5 – Desconfiança no setor imobiliário
Milhares de projetos imobiliários foram paralisados ou atrasados na China. Isso aumentou a desconfiança no setor, pois muitos chineses não receberam suas moradias já compradas.
6 – Queda nos valores dos imóveis
Esse cenário quebrou a imagem de que os imóveis eram um investimento seguro para os chineses. A alta oferta e a demanda encolhida ocasionaram na redução desenfreada dos preços.
Veja abaixo o gráfico que evidencia esse declínio, principalmente a partir de 2021:

Fonte: Reuters
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O cenário atual da crise imobiliária chinesa
As vendas no setor imobiliário continuam em ritmo de queda. Atualmente, a redução é de 20,2% em comparação com o ano passado. Em investimento, também houve um declínio de 9,8% nos primeiros quatro meses de 2024, enquanto o início de novas construções caiu 24,6%. De acordo com a Reuters, os preços de imóveis novos também caíram pelo 13º mês consecutivo, com 0,7% de queda.
Dados do Banco Central da China relatam a expectativa da população em relação aos preços dos imóveis. Em agosto de 2024, 23,2% dos chineses ainda acreditavam que os valores continuariam a cair no terceiro trimestre do ano, um recorde desde que os dados ficaram disponíveis em 2013. Com a crise de confiança doméstica e a crença de que os preços continuarão a cair, há menos incentivos para que os compradores adquiram imóveis no momento. Isso gera incerteza sobre quando a crise chegará ao fim.
Conforme o Goldman Sachs, o valor total de casas não vendidas ou inacabadas na China é de cerca de 30 trilhões de yuans, ou 4,1 trilhões de dólares. A instituição afirma que pode ser necessário mais de 967 bilhões de dólares para reduzir a oferta de moradias aos níveis anteriores ao colapso.
Em milhões de metros quadrados construídos, os novos empreendimentos residenciais na China caíram 58%, de 1.515 milhões de m² em 2019 para 637 milhões de m² em 2023. Veja abaixo:

Fonte: Visual Capitalist
As medidas chinesas para conter a crise imobiliária
O recorde na oferta de moradias ainda afeta a liquidez do setor imobiliário e a economia chinesa, como mostram os números. Contudo, o governo local já está trabalhando com medidas para estabilizar o mercado. O objetivo é compensar a demanda decrescente, diminuir a queda dos preços e controlar o estoque de imóveis não vendidos.
Entre as principais soluções anunciadas pelo governo chinês, está a redução das taxas de juros para hipotecas. O objetivo é estimular o uso de empréstimos para impulsionar as vendas dos imóveis. O Banco Central da China também anunciou a criação de um fundo de 300 bilhões de yuans para habitação acessível, medida que busca aumentar a demanda por imóveis na classe média.
Por fim, empresas estatais também têm buscado comprar apartamentos para diminuir a oferta do mercado imobiliário, além da audiência de liquidação da Country Garden (que foi adiada para 20 de janeiro de 2025).
Para o futuro, as expectativas ainda são incertas. Não há previsão para o retorno do setor imobiliário a níveis pré-crise. O governo chinês já acumulou US$ 15 trilhões em dívidas relacionadas à pandemia e à infraestrutura. Isso pressiona as contas públicas e restringe a fonte de financiamento que poderia aquecer o mercado novamente.
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O impacto da crise imobiliária chinesa na economia global
O setor imobiliário da China responde por uma parte significativa do PIB do país. Com a desaceleração desse setor, o crescimento da nação também é impactado diretamente.
Essa redução na economia influencia a demanda global, principalmente por commodities (como aço, soja e mais). Em longo prazo, essas consequências podem prejudicar países exportadores de commodities como o Brasil, grande parceiro comercial da nação asiática.
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A desaceleração econômica na China também afeta as cadeias de suprimentos globais. O país é um grande centro de manufatura e uma queda na atividade econômica pode impactar nações que dependem dos produtos chineses. Além disso, em casos de queda nas exportações e na receita chinesa, outras nações podem ter que baixar as taxas de juros ou adotar políticas expansionistas para mitigar os impactos negativos.
A importância do hedge neste cenário
A incerteza em torno da crise imobiliária chinesa tem provocado volatilidade no mercado de commodities. Como esse colapso pode atingir a demanda por produtos, os preços das matérias-primas também sofrem alterações em todo o globo.
Neste cenário, o hedge é importante ferramenta que contribui para a proteção de preços. Entre em contato com um especialista na Hedgepoint e entenda mais sobre os nossos produtos de hedge que podem te ajudar no gerenciamento de riscos de preço de commodities.