Armazenamento de grãos no Brasil: entenda o problema

Marcelo Lacerda, Head of Desk – Sales – Brazil Grains/Cotton da hEDGEpoint, explica o problema do armazenamento de grãos no Brasil e como a gestão de riscos pode ajudar os produtores.

03 de Julho de 2023

Hedgepoint Global Markets

A capacidade insuficiente para o armazenamento de grãos no Brasil ganha destaque com a colheita da safra 22/23. A estimativa atual, conforme o 9° levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), é de que a produção de grãos chegue a 315,8 milhões de toneladas, um aumento de 15,8% ou 43,2 milhões de toneladas sobre a temporada anterior.

A soja apresenta o maior crescimento, totalizando um volume de cerca de 155,7 milhões de toneladas, seguida do milho, com 125,7 milhões de toneladas. Juntas, essas duas commodities representam 72,5% do total de grãos na safra 22/23. Nesse cenário, a armazenagem se torna ainda mais desafiadora. Segundo Marcelo Lacerda, Head of Desk – Sales – Brazil Grains/Cotton da hEDGEpoint, o problema está no fato de que a produção é significativamente maior do que o espaço de estocagem disponível, com risco de haver um déficit de quase 124,9 milhões de toneladas:

“Hoje, o país produz mais do que consegue efetivamente armazenar. A nossa capacidade de armazenar está em torno de 180 a 190 milhões de toneladas, muito inferior ao que as projeções indicam em relação à produção total”, explica.

Neste artigo, você irá entender por que a armazenagem de grãos é um problema a ser enfrentado na nação brasileira e como a gestão de riscos pode ajudar os produtores.

Capacidade estática inferior à produção

A capacidade estática se refere à disponibilidade de estruturas disponíveis para o armazenamento de grãos. No Brasil, ela é consideravelmente inferior à quantidade de grãos produzidos. Por isso, muitos produtores têm depositado parte da colheita em métodos alternativos como silo bolsas, que são compartimentos que permitem armazenar todo tipo de grão e silagem: “É uma medida paliativa, mais arriscada e que pode acarretar a perda produtiva”, comenta Lacerda.

Analisando-se a evolução da capacidade de armazenagem a partir de dados da Conab, aponta-se taxa média de crescimento de apenas 2,3% ao ano em um histórico de 10 anos. Nesse mesmo período, o aumento da produção de milho e soja foi de 5,6% ao ano. Esse é um panorama preocupante, visto que o déficit de armazenagem reduz o poder de escolha do melhor momento de venda, pressionando as cotações:

“O produtor pode se ver obrigado a vender a soja ou o milho, caso a produção seja maior que a capacidade de armazenamento considerando safra e safrinha, mesmo que os preços não sejam atrativos. Isso faz com que haja uma pressão de venda no mercado, diminuindo os preços ao produtor ainda mais”, esclarece Lacerda.

Capacidade de Armazenagem de Grãos vs Produção de Soja e Milho (M ton, %):

armazenamento

A safra de soja 22/23 apresentou uma colheita bastante elevada e ainda estão acontecendo as negociações de venda. De acordo com análise da hEDGEpoint, ainda há a estimativa de quase 40% da safra 22/23 de soja para ser comercializada. Com a entrada da colheita do milho, a disputa de espaço com a soja se intensifica dentro da capacidade de armazenagem, impactando a comercialização.

Comercialização da Safra de Soja a Nível Nacional (% da produção):

O mercado da soja tem uma liquidez maior quando comparado ao de milho. Na prática, significa que é mais fácil resgatar os valores investidos nessa commodity. Lacerda pontua que isso faz com que alguns produtores optem por estocar a soja e vender o milho:

“O risco é a redução das exportações norte-americanas, já que o Brasil estará vendendo bastante milho no mercado externo, afetando as cotações da Bolsa de Chicago”, elucida.

Perdas podem somar até R$ 30,5 bilhões em 2023

Com safras recordes e o elevado déficit de armazenagem de grãos, os prêmios de exportação da soja e do milho estão em níveis negativos em relação ao mercado internacional. O prêmio é um valor que pode ser positivo ou negativo, representando um ágio ou um deságio frente ao balizador internacional dos preços. Reflete o valor que o importador está disposto a pagar pela commodity, determinado por meio de negociações entre exportadores e importadores, utilizando o valor da Bolsa de Chicago como referência.

Segundo a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, as perdas geradas na cadeia produtiva brasileira podem chegar a R$ 30,5 bilhões em 2023. Das perdas totais, a soja responderia a R$ 19 bilhões; o milho, por R$ 11,5 bilhões. Os valores foram avaliados considerando prêmios negativos e os embarques realizados e previstos para os próximos meses.

Outro ponto importante é a diferença na capacidade de armazenagem entre os diversos estados. Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo são exemplos com maior espaço de armazenamento, enquanto o Mato Grosso, principal produtor de grãos do país, apresenta déficit de 50%, ou seja, apenas metade do que é produzido consegue ser estocado.

Capacidade de Armazenagem de Grãos vs Produção de Soja e Milho  por Estado (%):

Concluímos que o Brasil não tem a estrutura suficiente para armazenar a produção das safras anuais de grãos. Além disso, alguns estados carecem de espaço, enquanto outros têm sobras. Nesse sentido, é importante que o país adote uma logística melhor de distribuição, incentivando a adoção de políticas que possam aumentar a capacidade estática de armazenamento.

Com essas medidas, o produtor poderá vender em um momento mais favorável, havendo maior controle sobre os preços dos produtos exportados. A gestão de riscos também assume importante papel, proporcionando ainda mais segurança, conforme explicamos a seguir.

Como a gestão de riscos pode ajudar os produtores?

Vários fatores interferem na volatilidade do mercado de commodities. Incertezas devido ao contexto político e econômico a nível local e global e a própria estocagem podem afetar na oferta e demanda. O especialista Marcelo Lacerda alerta sobre uma das funções principais da gestão de risco em relação ao armazenamento:

“O produtor poderá vender o produto e montar estratégias de derivativos que vão fazer com que ele participe de uma eventual alta. Ele vende a soja dele no mercado físico, por exemplo, e forma uma estrutura de proteção contra a alta, através de derivativos. Essa é uma solução de gestão de risco em relação à questão da da armazenagem”, argumenta.

Desse modo, o gerenciamento de riscos desempenha um papel fundamental. A hEDGEpoint oferece produtos de hedge que possibilitam ao produtor garantir um preço mínimo de venda, assim, ele poderá participar da alta do mercado por meio de estruturas de opções. Além disso, disponibilizamos análises valiosas e tecnologias que unem o conhecimento de especialistas para a tomada de decisões estratégicas em cada modelo de negócio.

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