Taxa de juros e variação cambial: entenda a relação
Você já deve ter lido nas notícias que a taxa de juros dos Estados Unidos subiu e isso causou variações no câmbio do mercado financeiro global. Mas, o que isso significa na prática para quem atua no setor de commodities?
Para esclarecer esses dois importantes conceitos que fazem parte do dia a dia do mercado financeiro, convidamos Alef Dias e Victor Arduin, Analistas de Inteligência de Mercado da hEDGEpoint, para explicarem:
- O que é a taxa de juros?
- O que é a taxa de câmbio e a variação cambial?
- Como a taxa de juros e a variação do câmbio estão associadas?
- Quais os impactos para o mercado de commodities?
- Exemplo atual para compreendermos a relação.
- Qual a importância do hedge neste contexto?
Continue a leitura e confira!
O que é a taxa de juros?
Os juros são índices utilizados na economia para registrar a rentabilidade de uma aplicação ou o custo do dinheiro no tempo. Os juros desempenham um papel importante na economia: eles ajudam a regular o fluxo de dinheiro, a incentivar o investimento e a controlar a inflação.
“A taxa de juros é um dos principais fatores que influenciam o valor de uma moeda. Quando um país aumenta seus juros, a moeda tende a se valorizar frente a outras”, explica Alef Dias.
Assim, a taxa de juros relaciona os valores pagos ou recebidos no fim de um período pré-acordado. No mercado de commodities, é especialmente importante porque os preços dos contratos futuros e demais derivativos, por serem negócios com liquidação futura, sofrem grande influência das taxas de juros mundiais.
Entre elas, destaca-se a taxa de financiamento overnight – SOFR (sigla em inglês para Secured Overnight Financing Rate), uma taxa de juros influente que os bancos usam para precificar derivativos e empréstimos denominados em dólares.
Ela é a principal referência para sinalizar a rentabilidade de títulos baseados em taxas variáveis, refletindo principalmente as taxas aplicadas em transações diárias de recompra do Tesouro estadunidense.
O que é a taxa de câmbio e a variação cambial?
A variação cambial é diferente da taxa de câmbio. Vamos pensar na variação do dólar: ela está ligada ao conceito de oferta e demanda. Se há uma grande quantidade de dólares disponível no país, a moeda norte-americana acaba por desvalorizar.
Porém, caso haja pouca oferta, a moeda valoriza. O preço pago por ela é chamado de taxa de câmbio, refletindo o preço relativo de uma moeda em relação a outra. A variação cambial é exatamente a diferença entre duas taxas de câmbio, considerando a que foi utilizada no negócio na data da compra e a que será aplicada no dia do pagamento.
”As taxas de câmbio evidenciam a diferença de preço do dinheiro nas diversas economias. Por exemplo, se você tem o dólar mais caro, ele se fortalece em relação ao real”, esclarece Alef Dias.
A variação cambial ocorre devido à desvalorização ou valorização de uma moeda em relação a outra e afeta o preço das mercadorias importadas e exportadas. Como as commodities são negociadas a nível mundial e recebem preços de referência estabelecidos em diferentes moedas, a diferença das cotações é fundamental para compradores e vendedores.
Por exemplo, se o real valorizar em relação ao dólar, isso pode interferir negativamente na receita da empresa exportadora que negocia em dólares. Já a valorização do dólar frente ao real pode acarretar aumentos significativos nos custos de produção agrícola, pois diversos insumos são precificados em dólar no mercado internacional.
Como a taxa de juros e a variação cambial estão associadas?
A taxa de juros influencia a variação cambial. Para você entender bem, vamos recorrer aos Estados Unidos e ao petróleo. Se o país subir a taxa de juros, isso significa que a liquidez é reduzida no mercado interno. Um dos efeitos desta situação? A valorização do dólar na economia e possíveis consequências nos preços globais do petróleo:
“O petróleo é cotado em dólares no mercado internacional. Então, quando o dólar se fortalece em relação ao real, os preços do petróleo em reais tendem a subir, tornando-o mais caro para o consumidor brasileiro”, pondera Victor Arduin.
Como resultado, a demanda pelo dólar cresce, levando a uma valorização dessa moeda em relação a outras economias. Dessa forma, se um determinado país decide aumentar suas taxas de juros, torna-se mais atraente para os negociadores estrangeiros negociarem neste local. Isso ocorre porque eles podem obter um maior retorno sobre suas negociações em relação aos juros, que serão elevados ao longo do tempo por meio da valorização do dinheiro.
Neste cenário, também poderá acontecer a apreciação cambial, ou seja, o governo adota medidas com o objetivo de valorizar a moeda local em relação às moedas internacionais. É o que acontece no caso de se pagar muito caro pelo petróleo nas importações.
Mercado de commodities: impactos da taxa de juros e variação cambial
Para você entender como a taxa de juros e a variação cambial impactam o setor de commodities, Alef Dias traz o mercado de grãos como exemplo:
“Imagine que os Estados Unidos aumentam os juros. O Brasil, por sua vez, reduz os juros. O dólar se fortalece nesta situação. Se o real se desvalorizar, a soja brasileira fica mais barata. Por isso, o Brasil apresenta a tendência de exportar mais”, complementa Alef.
O grande risco do aumento de juros em economias como a norte-americana é a possibilidade de recessão global. No mercado de commodities, essa situação pode causar menor demanda de produtos, como no caso do petróleo:
“O aumento da taxa de juros valoriza o dólar e tem chance de reduzir a atividade econômica, o que leva pessoas e empresas gastarem menos, incentivando o uso de aplicações financeiras. Logo, a demanda por commodities é afetada, gerando volatilidade devido à alterações de preços”, acrescenta Arduin.
Exemplo para entender a relação: Estados Unidos e aumento da taxa de juros
O Fed (sigla em inglês para Federal Reserve, que é o Banco Central dos Estados Unidos) divulgou que recentemente houve a manutenção da taxa de juros, com possibilidade de um novo aumento antes do final do ano. O processo de alta das taxas de juros começou em março de 2022 e alcançou o expressivo número de 5,25% a 5,50% ao ano.
“Os Estados Unidos estão com um processo inflacionário muito alto e o aumento dos juros é uma resposta a isso. O Banco Central norte-americano deseja convergir os preços para a meta de 2% de inflação, mas sem prejudicar a economia. Mas, o aumento de juros por um período prolongado repercute no mercado de commodities, com possíveis quedas nos valores dos produtos de economias emergentes”, pondera Arduin.
Taxas de juros mais altas nos Estados Unidos podem afetar negativamente o crescimento econômico global, pois o aumento dos custos de empréstimos desencoraja o consumo e os investimentos. Uma desaceleração econômica global pode levar a uma redução na demanda por commodities, o que, por sua vez, pressiona os preços para baixo.
Quando os juros sobem nos Estados Unidos, o capital internacional se desloca para lá. O fato de o negociador ganhar mais com menos risco torna outros mercados menos atraentes, como no caso de economias emergentes, forçando-as a melhorarem o seu prêmio de risco e aumentarem os juros.
“Como a moeda dessas economias emergentes desvaloriza, para os produtores fica mais vantajoso exportarem. Porém, os impactos macroeconômicos tendem a se sobressair nessas nações. Com o aumento de juros e pressão inflacionária global, a atividade econômica tende a se retrair. Os investidores retiram recursos dos países emergentes para aplicar nos Estados Unidos, havendo consequências negativas para a moeda das economias emergentes”, completa Alef Dias.
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Qual o papel do hedge neste contexto?
Taxas de juros oscilando e consequente variação do câmbio são fatores que influenciam as decisões de investimento e consumo no planeta, afetando a demanda e a oferta de commodities.
É fundamental que os negociadores se protejam da volatilidade de preços, recorrendo a ferramentas de hedge para gerenciar riscos. A hEDGEpoint oferece instrumentos de hedge aliados à análise de dados e insights para todos os envolvidos neste mercado.
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